quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Contribuições para o avanço da psicopedagogia e importância da avaliação para o diagnóstico

Fabiana M.
Diversos estudos oferecem contribuições bastante expressivas para o avanço da psicopedagogia e consequentemente para as questões de aprendizagem e desenvolvimento.
A seguir destacarei três estudos que ,na minha opinião, são de maior relevância:
1) Emília Ferreiro - Nos estudos psicopedagógicos dos processos da leitura e escrita.
2) Vygotsky - Com seu modelo interacionista.
3) Pain e Visca- Com seus estudos voltados para uma teoria da prática psicopedagógica que integre a teoria piagetiana às contribuições da psicanálise, com o intuito de estudar as relações entre a inteligência e a afetividade.
A maior contribuição de Emília Ferreiro às questões do desenvolvimento e aprendizagem, foi dada quando ela deslocou a investigação de como se ensina a ler e escrever, para como se aprende. Através de seus estudos, ela apresentou uma outra forma de enxergar os problemas da leitura e escrita. Ferreiro salienta que o processo de leitura e escrita inicia-se muito antes do que a escola iomagina, portanto a criança leva para os bancos escolares suas hipóteses, que muitas escolas teimam em ver apenas como erros. Para a autora esses "erros" são "erros construtivos", portanto as escolas precisam levá-los em consideração.
Para Vygotsky, é a internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas, o que propicia ao homem transformar - se de biológico em sócio- histórico. Para ele a criança se desenvolve através das interações sociais: o desenvolvimento ocorre na presença de situações propicias ao aprendizado, ou seja, o aprendizado vem antes do desenvolvimento. Desta forma a teoria de Vygotsky apresenta uma visão ampla dos problemas de aprendizagem, tirando o peso que a criança carrega nas costas e dando ao meio uma responsabilidade maior.
Para entendermos uma outra contribuição que esse autor traz, é necessário citar os dois níveis de desenvolvimento potencial. O primeiro refere - se ás conquistas já consolidadas na criança, ou seja, ao que ela consegue realizar sozinha, sem a ajuda de outros. O segundo refere-se ao que a criança é capaz de fazer com a ajuda de outra pessoa( adultos ou crianças mais desenvolvidas), ou seja, nível em que as crianças são capazes de realizar tarefas através de pistas que lhe são fornecidas.
A distância entre esses dois níveis, foi denominado como zona de desnvolvimento proximal.
Para Vygotsky o valor dos testes no diagnóstico dos problemas de aprendizagem são restritos, pois estes medem apenas o nível de desenvolvimento real, deixando de lado as funções mentais em processo de construção. Portanto os métodos diagnósticos deveriam ser concentrados na zona de desenvolvimento proximal, pois através dela podemos dar conta dos processos em vias de se desenvolverem. O que uma criança pode fazer com assistência hoje, poderá fazer sozinha amanhã.
Desta forma é levado em consideração as capacidades das crianças e o rótulo de "incapaz" cai por água abaixo.
Pain e Visca vêem o ser humano de forma complexa, levando em consideração o ser como todo, um ser biológico, social, cognitivo e emocional. Desta forma, mostraram que o processo de aprendizagem e seus problemas envolvem muitos fatores, sendo necessário observar aspectos individuais de cada sujeito; dismistificando, assim, a concepção de problemas de aprendizagem patologizantes e contribuindo para que se verifique a necessidade de uma visão interdisciplinar, tão necessária ao falarmos de aprendizagem humana.

A avaliação psicopedagógica, tem como objeto de estudo, o ser cognoscente, ou seja, um ser complexo, com várias dimensões, que possui um funcionamento dinâmico e encontra-se em construção permanente. Ele constrói seu conhecimento, porém é determinado por suas várias dimensões.
"essas dimensões na medida em que determinam o ser cognoscente são constituintes no processo de construção do conhecimento(...)"

O ponto de partida para a construção do conhecimento desse ser em construção permanente se constitui em sua ação, ele ativamente compreende o mundo e resolve as questões que este lhe coloca. Nesta tentativa de compreender o mundo ele percebe, discrimina, organiza, concebe, conceitua e enuncia, porém de formas diferentes dependendo do estágio de desenvolvimento cognitivo em que se encontra.

Ele é um ser social, que se relaciona com os outros sujeitos, portanto suas relações também são constituintes no processo de construção de seu conhecimento.

Não podemos esquecer que o ser cognoscente além de sua dimensão racional (cognitiva) e relacional( interpessoal), possui um desejo que o impulsiona, ou seja, sua dimensão afetiva/desiterativa cumpre um papel determinante sendo o "motor" da ação do sujeito.

Ao pensarmos em avaliação, deveríamos ter em mente três perguntas: avaliar o que? Avaliar como? E avaliar por quê?

Comumente verificamos avaliadores fazendo avaliações irrestritamente, a avaliação, quando não é útil para o avaliador e para o avaliado, foge de seu objetivo tornando-se irrelevante.

Os testes são recursos, um instrumento de coleta de dados, porém o que faremos com o seu objetivo é classificar ou avaliar? Se para classificar ele terá caráter seletivo e excludente.

Caso uma avaliação seja feita, sem levar em consideração o que está acontecendo no momento que antecede o teste, nem o que ocorrerá depois, interessando – se somente pelo momento que está ocorrendo, não estará enxergando o avaliado como um ser em construção permanente. Caso não tenha atingido os resultados propostos, será reprovado, ou seja, excluído do grupo dos que sabem. Neste momento o avaliador tem seu poder ampliado, ou seja, detém o poder de excluir, e o avaliado é colocado em um lugar de fragilidade e ,muitas vezes, reage a isso.

A avaliação verdadeira é aquela que olha para o avaliado como um ser em construção permanente, não se interessando pela rotulação e julgamento e sim pela sua inclusão.

Uma avaliação verdadeira é inclusiva e diagnóstica, pois detecta as dificuldades para saber de que forma interferir para ajuda-lo a avançar.

Em uma avaliação verdadeira importa o que estava acontecendo antes da avaliação, durante a avaliação e o que acontecerá depois dela.

Uma avaliação verdadeira precisa visar o processo e não o resultado.

Em um processo de avaliação psicopedagógica precisamos percorrer as várias dimensões, pois somente assim entenderemos o funcionamento do sujeito.

A matriz diagnóstica de Jorge Visca é uma forma teórica de explicação, de como se faz uma avaliação. Ela é constituída por tópicos.

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